Jovem chefiando velha guarda. Velha guarda chefiando jovem
Às vésperas de completar 50 anos de idade e 30 de profissão desde que entrei na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante passei a refletir sobre a velocidade com que as coisas tem acontecido no nosso ambiente de trabalho e no mercado profissional.
Não preciso repetir o que todo mundo já sabe, que o mercado de trabalho impulsionado pela exploração do petróleo criou um descompasso entre a formação profissional e a necessidade de preencher as vagas disponíveis.
Esse fato gerou duas situações:
Promoção de jovens oficiais a posição de comando e chefia e o retorno de vários profissionais que estavam há muito tempo fora do mercado às funções que deixaram quando o mercado encolheu.
Criamos aqui uma situação inusitada, jovens chefiando ou comandando velhas guardas. Na MM de antigamente raramente encontrávamos essa situação, muito raramente, é verdade.
Nós jovens àquela época tínhamos como superiores hierárquicos profissionais que além de serem mais velhos eram muito mais experientes. Idade correspondia na grande maioria dos casos a uma vasta experiência e conhecimento adquirido ao longo dos anos de mar, numa época que nem se cogitava um por um , onde o normal era ficar embarcado por mais de um ANO.
Hoje, com a remuneração diferenciada que o mercado oferece e pela carência de profissionais, voltam a atividade profissionais que estavam aposentados, e aqueles que se afastaram voluntariamente da profissão sem fazer cursos de aperfeiçoamento. Envelheceram uns depois de anos de experiência mas desconectados das exigências da vida marinheira atual e outros sem a experiência pois não ficaram na profissão suficientemente para adquirirem-na.
Aos jovens , e este é o motivo do texto que escrevo, vai a recomendação de tratarem com respeito a experiência destes Oficiais inexperientes. Eles tem uma história de vida e apesar de não terem ficado tanto tempo na profissão como alguns jovens que os comandam ou chefiam, ou tem muita experiência e estão apenas “enferrujados” precisando se adaptar a nova dinâmica da profissão. Qualquer lugar em que se trabalha, seja no mar , seja em terra o ser humano deve ser sempre o foco, as coisas só acontecem porque nós, pessoas estamos lá.
A educação desta geração trouxe hábitos que não são entendidos ou aceitos pelos mais velhos, é preciso navegar neste mar revolto do conflito de gerações com sabedoria para não deixar o seu comando ou chefia naufragar numa gestão sem resultados, numa perda de oportunidade de aprendizado e enriquecimento entre a troca de experiências entre gerações.
Já os velha guardas devem entender que a MM mudou, na época que começaram 25 , 30, 35 anos atrás MM era longo curso, navios mercantes, LLoyd Brasileiro para o mundo todo, Netumar para a América, Aliança para a Europa, Frota Oceânica para a Ásia, Flumar, Global, Norsul e tantas outras bem como graneleiros pelo mundo afora e Transpetro na linha do Japão e para todo mundo, não havia quase nada de offshore e plataformas de perfuração não impactavam na profissão.
Atravessaram o “boom” da Construção Naval no Brasil na década de 70 o inicio do fim da década de 80, o encolhimento da frota mercante nacional e o crescimento do offshore na década de 90 e o “boom” do século XXI.
Hoje o ritmo em que as coisas acontecem é numa velocidade impressionante, o mercado de offshore é que dita as regras das oportunidades de emprego e nos benefícios da classe trabalhadora. O computador virou equipamento default a bordo é imprescindível se familiarizar com este equipamento, não adianta resistir a essa tecnologia, portanto, busquem a familiarização.
Motor diesel continua sendo o mesmo tendo camisa, pistão, anel de segmento, a diferença é que hoje a informática está presente monitorando o equipamento através de PLC com comandos semelhantes a um computador. Isso vale para Caldeiras, purificadores, destiladores, painéis elétricos. Hoje a partida dos equipamentos é pela tela do computador, se não tem familiaridade com o mouse, trackball , touch screen como é que fica?
Hoje o Oficial de Máquinas é encontrado como Supervisor de Manutenção, Subsea Engineer e até na Perfuração, bem como Oficiais de Náutica. Hoje as mulheres estão no mercado, algo impensável no passado com as particularidades de sua presença a bordo.
Comprem um notebook, façam cursos de informática, familiarizem-se com os sistemas informatizados de gerenciamento da manutenção, e de monitoramento de equipamentos de navegação e praça de máquinas. Leiam o manual!!!!!!!!!!!!
Profissionais do mar sempre tiveram que ser autodidatas e hoje mais do que nunca isso é imprescindível ao homem do mar.
O mercado de petróleo face as peculiaridades da exploração não dá margem a erros que podem provocar acidentes com perda de vidas e impactos ambientais .
Gestão Ambiental hoje é tema central desta exploração, a legislação se torna cada dia mais exigente e deve ser conhecida de quem está na profissão.
Por fim, a você que não abandonou a profissão e, como eu, continua na ativa, fica um recado: entenda a “Geração Y” de Oficiais que está no mercado, são da geração dos seus filhos ou netos, nada difícil de lidar, mas é preciso entender como eles enxergam o mundo hoje e como vêem a profissão, não tem os parâmetros nem as nossas referências.
Só respeitam os superiores que demonstram serem dignos do respeito pela postura profissional, pelo conhecimento que demonstram, pela liderança natural. São autênticos, francos e sinceros e isso muitas das vezes choca os mais velhos. Testam você diariamente não se prendem a empresas, desejam crescimento rápido, aceitam serem orientados desde que admirem o mentor.
Este é o nosso grande desafio, precisamos conquistar os subordinados pelas nossas atitudes.
Os desafios profissionais do Homem do Mar do século XXI é grande e começa na reflexão que cada um deve fazer do momento atual.
Saudações maquibambas.
Paulino de Azevedo Soares Neto – EFOMM 82-84 – OSM
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